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Na pausa do café

  • sandraseabramoreira
  • 8 de set. de 2019
  • 1 min de leitura

Pesquei sem querer a conversa entre dois homens brancos, encostados no balcão para tomar café. Um falava ao outro, animado, sobre o giro, "esse que a gente sabe que tem na Umbanda e no Candomblé". O interlocutor ouvia com o olho vidrado na xícara de café com chantili. O estudioso acerca de giros insistia: - Vou explicar. Me copia; eu levanto essa mão e você levanta também a mão. O chantili esperando, o moço levantou a mão. - Isso. Agora eu levanto o pé, e você também levanta o pé. O moço levantou o pé. - Percebe? Você consegue me copiar. Mas se eu girar é impossível você me copiar. Insinuou um giro mas não se atreveu. Voltou a se encostar no balcão, pegou sua xícara de café e concluiu: - No giro está a pessoalidade. O outro pôde, enfim, sorver o chantili. Nada entendo de giros, exceto a vivência de alguns raros que cometi dançando. Girar exige treino, força, equilíbrio e domínio de si. Completar vários giros traz uma sensação incrível de liberdade, irmã da pessoalidade - não há uma sem a outra. Terminava o café quando me ative ao mural que decora o lugar. Nele, pessoas negras escravizadas colhem café, sob a supervisão de um capataz.

 
 
 

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