SANDRA SEABRA MOREIRA

A História inspira
Djebel, Barkal e o faraó núbio é um conto que traz às crianças a vivência de personagens núbios no vale do Nilo, na África, local em que duas civilizações, a egípcia e a núbia, em períodos históricos recorrentes, entrelaçaram suas culturas, comércios e povos. É meu primeiro conto infantojuvenil.
A história foi surgindo ao longo de tardes em que eu estudava o livro História da África Negra Vol I, do historiador burquinense Joseph Ki-Zerbo (1922 – 2006). A princípio, mais do que os fatos que Ki-Zerbo relata, me arrebatou sua escrita urgente e inspiradora. Ele escreve consciente de que o tempo histórico lhe deu uma tarefa gigantesca: retirar de um soterramento as décadas, os séculos de acontecimentos ocorridos na África. Acontecimentos cujas provas e fontes foram destruídas, espoliadas ou ainda permanecem, talvez felizmente, escondidas. Ele elenca equívocos na interpretação de historiadores racistas, menciona a dificuldade de encontrar fontes escritas acerca da África e dá boas vindas ao que ele denomina uma nova escola histórica, a “história total”, em que a fonte escrita não é a única válida: “O Homem tornou histórico tudo aquilo que tocou com a sua mão criadora: a pedra como o papel, os tecidos como os metais, a madeira como as joias mais preciosas.”(p.17) Toda essa riqueza material e espiritual transborda do Egito e da Núbia até a atualidade.
Crianças a partir dos nove anos acompanharão a trajetória de Djebel e Barkal com mais interesse do que as crianças menores. Por volta dos nove anos, a criança, já apartada do derredor, tem sua primeira crise existencial; sentindo-se única no mundo, faz perguntas: de onde eu vim? Para onde vou? O que é a morte? E daí em diante, por toda a vida, fará perguntas e buscará respostas no mundo e em si mesma. Também a partir dessa idade e até por volta dos 14 anos, a criança aprecia uma narrativa por meio de imagens que lhe suscitem sentimentos, muito mais do que por meio de conceitos abstratos, datas e referências. Por isso, em Djebel, Barkal e o faraó núbio, as referências históricas não estão explícitas, apenas volitam em torno de imagens, criando atmosferas.
Djebel e Barkal são núbios e funcionários do faraó. Enquanto Djebel percorre a aldeia de Faras como ouvidora do ministro, conversando com crianças, mulheres e homens, Barkal palmilha o deserto como um famoso guia de caravanas, sabedor dos segredos das estrelas. Eles conhecem as riquezas dos reinos às margens do Nilo, e também os dissabores da população que vive perto do deserto. Uma catástrofe os separa e para reencontrar Barkal, Djebel terá de se aventurar pelo deserto como nunca em sua vida. Para realizar essa aventura terá de cumprir todas as condições impostas pelo faraó.